terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dor Eterna

Ele não sabe que o amo. Nem tão pouco lhe interessa.

Para ele o Mundo não vai além do divertimento pessoal. Vive para esses efémeros momentos de satisfação, logo correndo em busca de outros, mal os últimos se escoam como areia por entre os dedos. Habituou-me a isso há alguns anos, e eu não tenho mais remédio senão aceitar e sofrer.

Sem que ele saiba, sem que sinta, sem que sonhe, sequer... A sua indiferença é como um objecto cortante que me dilacera a alma. E assim vou sangrando, apesar de sorrir como se tudo fosse correcto.

As suas preocupações não passam pela minha pessoa, pela minha vida, pelo amor que lhe tenho. Afinal, não é relevante, pois não?


Olhamo-nos, mas ele não me vê. Falamos, mas ele não me escuta. Rimos, mas ele não se apercebe do cinismo a que sou obrigada.

A sua atitude convida ao desprezo, mas simplesmente não sou capaz! Está-me no sangue. Ele está-me no sangue...

Guardo com carinho a única prenda que me deu. Única na vida! Um objecto, aparentemente sem valor, pedinchado numa loja-dos-trezentos (não, não é loja-do-chinês ou loja-do-marroquino ou outra loja-com-artigos-de-fraca-qualidade-a-preço-reduzido; é mesmo a típica portuguesa loja-dos-trezentos) pela altura do último natal, parece-me. Sim, pedinchado, pois que caia o céu sobre a Terra, caiam as estrelas, ruam as montanhas e congelem os mares se alguma vez lhe passar pela cabeça presentear-me, por iniciativa própria, sob qualquer forma...

Abriu-se entre nós um fosso imenso, profundo e carregado de escuridão, apenas comparável ao mais inóspito buraco do Inferno.

Saudades...

Saudades do que já passamos juntos, da experiência que foi viver e aprender lado a lado. Mesmo dos momentos menos bons eu tenho saudades. Eram a prova de que existia no seu coração, de que não me reduzia apenas a uma vaga memória, que nem sequer é lembrada com carinho...

Saudades desses tempos em que a inocência era partilhada, tal como os medos e os sonhos.

Saudades da amizade e das brincadeiras...

Saudades dele... Que saudades tenho eu dele!

Lágrimas de tristeza rolam-me pela face ao depositar tais palavras. Lágrimas de profunda dor... Muitas, umas atrás das outras, sem parar...

E choro, recordo-o, amo-o... sem que ele saiba.