terça-feira, 19 de maio de 2009

Epah, 'deslargue-me'!

Pergunta: qual é a pior coisa que pode acontecer numa manhã de trabalho chuvosa, a meio da semana, em que a vontade de trabalhar escasseia e o pensamento voa a cada 5 minutos para o fim-de-semana mais próximo?

Bem, consigo lembrar-me de 537 coisas diferentes, entre as quais ser eletrocutada pelo carregador do telemóvel que tem os fios descarnados, entornar leite na camisola e ficar a cheirar a azedo ou entalar uma unha no teclado. Mas, o que se passou comigo na passada quarta-feira não foi nada disto, embora todas elas sejam hipóteses viáveis de desastres laborais e um óptimo caminho para uma ausência devidamente justificada com um atestado de incapacidade temporária para o trabalho.

Pois, voltando à questão, este episódio gira em torno de um contacto telefónico no âmbito da divulgação de determinada engenhoca que, supostamente, limpa carpetes e colchões em profundidade. Ainda perguntei se me limpavam o cão, em profundidade, mas foi logo descartada esta possibilidade. É que dava um jeitão danado, mas pronto...

Ainda por cima esta apresentação teria sido sugerida por um amigo ou familiar, provavelmente uma anterior vítima, capturada e forçada a fornecer contactos para expansão da rede de potenciais clientes, qual prisioneiro de Guantanamo, torturado com música dos Queen ou Beegees (e não ao som de). Imagino sem esforço qualquer um dos meus amigos a sucumbir após 3 horas a ouvir 'Staying alive' e 'Bohemian Rhapsody', coitados.

Tentei esquivar-me pelas mais variadas formas mas o operador/vendedor/whatever recebia os meus golpes e arremessava-os novamente sem me dar tempo de contra-resposta.

''Ai trabalha o dia todo? Não faz mal Sra. D. Ana, os nossos técnicos também efectuam demonstrações à noite. Ai estuda à noite? Com certeza, nesse caso poderiamos marcar para o seu dia de folga. Ai, não tem folgas durante a semana? Ficaria para o fim-de-semana. Ai, não tem tempo? Calha bem que isto não demora nada. Ai não tem carpetes? Limpamos-lhe o colchão. Ai comprou o colchão há dois meses? Já precisa de uma limpezazita, já (aqui não consegui conter o riso, juro). Ai não está mesmo interessada? Pois, nesse caso vai ter mesmo de levar comigo, porque sou insistente como o raio-que-me-parta e esta maldita empresa de outsourcing despede-me se não angariar um determinado número de demostrações até ao final do mês.''

Acabei por me render, deixando bem claro que não compraria absolutamente nada, e que se quisessem perder tempo a limpar-me a casa, estavam à vontade, desde que isso lhe desse gozo.

Perguntou-me se fazia algum sentido a proposta ser feita por um amigo, se a intenção fosse impingir algum tipo de produto ou equipamento. Abstive-me de o informar que, na minha opinião, o que não fazia sentido absolutamente nenhum era que um desconhecido se deslocasse a minha casa, para efectuar a limpeza do meu colchão de forma completamente gratuita, sendo que os custos dessa deslocação teriam de ser pagos por alguém que não eu. E abstive-me porquê? Porque, pura e simplesmente, aquela criatura não aceitaria um 'Não' como resposta, a menos que fosse proferido em voz relativamente alta e de uma forma um nadinha mais bruta que o costume, o que resultaria numa grande dose de irritação (prejudicial ao meu sistema nervoso) e chamaria a atenção de eventuais transeuntes. É que eu adoro passar despercebida, esforço-me muito por isso e não deixaria que um pseudo-formado em marketing (na melhor das hipóteses) arruinasse esse meu esforço.

Assim, optei por outro tipo de abordagem, deveras simples, que em nada interfere com o meu quotidiano low profile, que evita que me passe dos carretos com esta insistência insolente e que me retirará da lista de potenciais clientes da dita empresa de uma vez por todas. Consiste esta abordagem no seguinte: ignoro por completo o compromisso ''forçado'', ausento-me e torno-me incontactável.

É que há pessoas que só entendem com um abanão, pelo que não estou nada preocupada com a deslocação em vão do vendedor/demonstrador. Não foi por falta de aviso...