segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Queixar de barriga cheia...


Por vezes queixamo-nos sem motivo aparente, quando nos ficava muito melhor calar a boca e agradecer pela sorte que nos calhou na rifa.


Eu sou uma dessas pessoas que está sempre descontente com a vida: ou não dá nada de jeito na TV, ou dá muita coisa e não consigo ver tudo, ou a casa está toda desarrumada, ou está tudo limpinho e não há nada para fazer, ou a sopa está muito quente e queima a língua, ou muito fria e faz dores no dente, ou tenho dores nas costas, ou na barriga, ou no dedo mindinho do pé, ou na ponta do nariz, ou não me dói absolutamente nada e não tenho desculpa para refilar... Bom, sou simplesmente impossível de aturar!

Contudo, existem momentos da minha vida em que me dedico a contrariar esta tendência, e abro os olhos para o mundo, apenas o suficiente para ver melhor o que tenho pela frente. E por vezes nem é assim tão mau... Ou melhor, a maior parte das vezes é muito melhor do que se imagina!

Há quem sofra a sério por esse mundo fora. Há quem passe fome e frio. Há quem veja filhos morrer de sofrimento, e há filhos que são obrigados a sepultar os pais pelo mesmo motivo. Há quem dê a vida por um punhado de tostões, porque na realidade ela não vale mais que isso. O Mundo é tão feio, tão monstruoso...

E há pessoas, como eu, que possuem um tecto para morar, refeições regulares, pequenos luxos urbanos (aos quais não ligamos, mas devíamos...) e muito amor em seu redor... e ainda se queixam! Tenho vergonha... muita vergonha de mim. Por vezes este sentimento é de tal forma atroz que me dá vontade de esbofetear a minha própria face, o corpo e a alma! Mas a vida é feita de constante aprendizagem, e em vez de uma bofetada, direcciono o pensamento para o resto do mundo, e apercebo-me de que não gira em volta do meu minúsculo umbigo.

É muito feio queixar de barriga cheia...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Apresentado Skazi, o pitinho!

Adquiri recentemente um cachorrinho.

Epah, achei que era uma boa resolução para o novo Ano (no seguimento, ou não, do último post), adicionar ainda mais patetices ao meu quotidiano e poder, em troca, oferecer uma vida de carinho e amor a um ser extremamente leal e alegre.

Acho que ainda não medi bem a dimensão da embrulhada em que me vim enfiar, mas... Venha ela!

O meu processo de aprendizagem iniciou-se automaticamente, assim que entramos em contacto um com o outro. Por exemplo, um dos factos de que tomei consciência foi o seguinte: é escusado procurar o interruptor, pois o bicho não funciona a pilhas (e esta, hem?). E uma vez que não visualizei nenhum cabo de alimentação, deduzi que tivesse um ciclo de actividade de algumas horas (movido a energia solar ou assim...), após as quais iniciasse um período de descanso. Pensei mesmo que esse seu período de descanso coincidisse com o meu, pois a Natureza é sábia e sem dúvida providenciaria esta harmoniosa convivência...

Certo? Errado!!

Não tardei a perceber que a Natureza afinal não é nada sábia, que o cachorro afinal quase não descansa e que quando o faz nunca é ao mesmo tempo que eu... Oh sorte...

Outro aspecto do mundo canino com o qual me deparei foi a ''higienofobia''. Quer isto dizer que, por norma, o xixi e o amigo (não é uma palavra que me apeteça escrever...) são depositados o mais longe possível do local amavelmente disponibilizado pelo dono, de preferência no extremo oposto da casa, desde que não entre em conflito com o espaço destinado à paparoca. Enfim... são porcos, mas não são badalhocos! Do mal, o menos... Ah, e geralmente gostam de o fazer quando ninguém está a ver, ou seja, basta virar costas e lá vai o canídeo alegremente em busca do pior lugar possível para satisfazer as suas necessidades fisiológicas! ''Quanto mais berrar este marmelo deste dono, mais contente está, de certeza! Posso repetir!''

E tenho feitos inúmeras descobertas deste género! Coisas que não lembram ao Diabo!

Por exemplo: pelos vistos, viver com um cão implica um súbito apego ao balde e à esfregona! Bem como portas fechadas, móveis roídos, meias desirmanadas, armários dos detergentes arrombados, vassouras sem pêlos, queixas dos vizinhos despoletadas por latidos (vou ensinar o meu a miar, pode ser que me deixem em paz!) e baba por tudo quanto é sítio, incluindo sofá, prateleiras baixas, livros, plantas e exemplares da ''Linhas e Pontos'' incautamente deixados na casa de banho, ao lado do vaso sanitário (vulgo sanita ou cagatório), que passam de boa leitura de WC a fanicos numa questão de segundos!

Já para não falar das variadas demonstrações de carinho, que compreendem o simples abanar da cauda acompanhado de um olhar profundo e doce (olhos de Bambi, como gosto de chamar, funcionam igualmente como forma de coação suave), ou as trincas nos pulsos, passando pelo clássico puxão de cabelos com os dentes (muito eficaz como despertador, quanto a mim).

Mas se alcançarmos o fundo da questão, mesmo lá nos confins da problemática, no meio de toda esta algazarra, sou uma pessoa deveras afortunada!

O meu exemplar canino compensa todos estes atentados a uma vida saudável e pacífica (nomeadamente a minha!) com uma dose gigantesca de mimo, ternura e amizade genuína. Sim, daquela que já só se encontra muito raramente no ser humano... Um amor incondicional e eterno, que nos enche o coração e faz choramingar de comoção os mais sensíveis.

Dão a vida por nós sem pensar duas vezes e representam para qualquer pessoa o melhor amigo que alguma vez encontrarão. Para eles, não somos os donos, mas sim os pais, amigos, confidentes e protectores. Somos o 'grande cão' que cuida do seu bem estar e oferece mimos irresistíveis, quer seja na forma de ossinhos com sabor a bacon ou uma festa na barriga. Tudo o que puderem oferecer ao seu amigo, oferecer-lhe-ão. Sobretudo a sua lealdade. Sempre e para sempre...

No meu caso, em particular, encerro aqui mais um capítulo da minha vida para iniciar um outro, muitíssimo mais rico!

Capítulo Seguinte: A vida com Skazi, o pitinho!