Por vezes queixamo-nos sem motivo aparente, quando nos ficava muito melhor calar a boca e agradecer pela sorte que nos calhou na rifa.
Eu sou uma dessas pessoas que está sempre descontente com a vida: ou não dá nada de jeito na TV, ou dá muita coisa e não consigo ver tudo, ou a casa está toda desarrumada, ou está tudo limpinho e não há nada para fazer, ou a sopa está muito quente e queima a língua, ou muito fria e faz dores no dente, ou tenho dores nas costas, ou na barriga, ou no dedo mindinho do pé, ou na ponta do nariz, ou não me dói absolutamente nada e não tenho desculpa para refilar... Bom, sou simplesmente impossível de aturar!
Contudo, existem momentos da minha vida em que me dedico a contrariar esta tendência, e abro os olhos para o mundo, apenas o suficiente para ver melhor o que tenho pela frente. E por vezes nem é assim tão mau... Ou melhor, a maior parte das vezes é muito melhor do que se imagina!
Há quem sofra a sério por esse mundo fora. Há quem passe fome e frio. Há quem veja filhos morrer de sofrimento, e há filhos que são obrigados a sepultar os pais pelo mesmo motivo. Há quem dê a vida por um punhado de tostões, porque na realidade ela não vale mais que isso. O Mundo é tão feio, tão monstruoso...
E há pessoas, como eu, que possuem um tecto para morar, refeições regulares, pequenos luxos urbanos (aos quais não ligamos, mas devíamos...) e muito amor em seu redor... e ainda se queixam! Tenho vergonha... muita vergonha de mim. Por vezes este sentimento é de tal forma atroz que me dá vontade de esbofetear a minha própria face, o corpo e a alma! Mas a vida é feita de constante aprendizagem, e em vez de uma bofetada, direcciono o pensamento para o resto do mundo, e apercebo-me de que não gira em volta do meu minúsculo umbigo.
É muito feio queixar de barriga cheia...
No fundo, talvez seja a alma que se agita tentando chamar à atenção do que é mais difícil de possuir, o nosso verdadeiro Ser.
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