quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Resolução de Ano Novo


''Ah e tal... este ano é que é! Raios me partam se não vou perder estes 15 quilos a mais. É já! Amanhã inscrevo-me no ginásio e começo o treino. E já agora, aproveito a boleia e deixo de fumar. Este ano é que vai ser o ano da mudança! Olha, e já que estou numa onda de loucura, vou perder a cabeça e começar as obras na garagem! É isso mesmo, este ano é que é!''


Familiar? Até demais, provavelmente...

Pessoalmente, não gosto de resoluções de Ano Novo. Porquê? Porque se dissessem respeito a coisas importantes, que têm mesmo de ser feitas, ou que são divertidas de fazer, não era necessário fazer resoluções ano após ano. Simplesmente fazia-se e pronto!


Em Janeiro a boa vontade abunda! Chegando a Abril, ela ainda existe, ainda que ligeiramente esmorecida. Até podemos estar inscritos no ginásio e efectivamente frequentá-lo (apenas no caso dos mais persistentes, pois regra geral, limitamo-nos a pagar a inscrição e as quotas mas não pomos lá mais os pés), mas esta modelagem corporal 'à pressa' tem outros nomes: Férias, Biquini, Praia... Esta parte do biquini não é aconselhável a indivíduos do sexo masculino ou a senhoras com grande volume a nível abdominal e glúteo!

Sensivelmente a meio do ano, durante o Verão, não nos preocupamos muito porque estamos de férias, claro! Interromper as férias para ir pintar a garagem? É já a correr! Aqui já o ginásio foi arrumado até ao próximo Janeiro e mesmo os esforços relativamente ao tabaco são abandonados em prol da diversão sazonal.


O último semestre do ano é aquele em que 75% da população que não desistiu antes de Maio, ou seja, 50% do total, abandona definitivamente as resoluções (até ao Ano Novo). Dos restantes 25% fazem parte aqueles que realmente, com grande mérito, conseguem cumprir os objectivos e os que continuam a meio-gás até Dezembro, mês em que os exageros assumem a posição de comando na vida do comum mortal.

E lá se passa mais um ano, a correr, sem que muitos de nós tenhamos realmente feito algo de importante! Ora, para isso, mais valia não fazer resoluções de Ano Novo nenhumas, que sempre dão algum trabalho e despesa na altura em que nos enchemos de boa-vontade e iniciamos o treino no ginásio, o método anti-tabaco, as obras na garagem, o livro de poesia ou a relação amorosa com o padeiro (sim, acredito que muito boa gente tenha na sua lista de Resoluções de Ano Novo o seguinte: Tarefa 7, declarar-me ao padeiro da esquina e convidá-lo para tomar café).


Isto parece-me um pouco hipócrita, ainda que não o seja em pleno, na realidade.

Contudo, por essa razão e contrariando este meu princípio, aqui deixo registada a minha Resolução para 2009: Nada de Resoluções de Ano Novo!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Boas Festas!

Não podia deixar passar em branco uma época tão emblemática como o Natal, não é verdade?

Eis, então, o produto de uma ligeira reflexão sobre esta temática, concebida algures entre Fátima e Aveiro, a bordo de um desconfortável autocarro de uma rede de transporte de passageiros cujo nome me abstenho de referir...

É verdade que é Natal!

Já todos reparámos na incomensurável invasão que se faz sentir em tudo quanto é hipermercado e centro-comercial.


Já todos notámos o minúsculo valor anexo ao último salário, que vulgarmente responde pelo nome de ''Subsídio de Natal''.


Também já nos apercebemos do súbito espírito solidário que nos entra porta dentro (quando está bem disposto até se digna a tocar à campainha), direito ao coração e nos faz doar brinquedos velhos e livros sem capa à minorias étnicas do nosso país, bem como a uma generalidade de crianças de países tão pobres quanto inóspitos, e que possuem nomes deveras estranhos como 'Djibuti', 'Burundi' e outros terminados em 'i' (na minha opinião, qualquer palavra terminada em 'i', que faça a acentuação exactamente na última letra, é estranha...). Aliás, nesta época do ano doa-se tudo: brinquedos, roupa, alimentos, dinheiro, sangue, medula óssea e inclusivamente a própria avó, se estiver a chatear demasiado! Já tentei com a minha, mas ela não foi na conversa...


O aroma a laranja e canela mistura-se no ar com os deliciosos cânticos de Natal e são ambos envolvidos pelo riso e entusiasmo da criançada, qual rebuçado repleto de açúcar e sonhos.


Natal é tempo de amor e carinho, de serões familiares em redor da lareira e de correrias em pantufas e pijama pela casa, na manhã abençoada.

Contudo, o que a esmagadora maioria da população esquece, ou prefere não lembrar, é que o Natal é também uma época de extrema solidão. De desespero profundo.


É uma altura do Ano em que a pobreza se acentua e a dor que provoca é por demais excruciante... Por vezes torna-se mesmo impossível de suportar...

Quem vive de perto esta angústia sabe bem... ainda que seja difícil expressar o sentimento de impotência e profunda tristeza que se apodera desta camada mais desfavorecida da sociedade.


O frio parece ainda mais gélido, a chuva mais molhada, a fome mais agonizante. E sobretudo o sentimento de solidão, de abandono e de inutilidade torna-se o maior residente destes corações...


Quer sejam mendigos andrajosos pelas ruas da cidade, ou idosos largados em lares desde o tempo em que a sua degeneração física e mental passou a constituir um empecilho para a família ou mesmo crianças e adolescentes entregues a instituições diversas, é necessário um grande coração e uma dose gigantesca de optimismo para encarar o Natal com um sorriso, por mais tímido que seja, e com amor pelo próximo.


Nesta noite de Consoada, os meus pensamentos vão para essas almas... com sinceros desejos de Boas Festas.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Diz que é uma espécie de Aniversário...


Parabéns para mim!


E lá chegamos mais uma vez ao aniversário do dia em que tudo começou... Para azar do Mundo, há 23 anos atrás nasceu esta criatura pateta. Mas o Mundo nunca teve muita sorte na vida e como uma desgraça nunca vem só, a criatura pateta sobreviveu à traumática experiência do parto. A primeira barreira estava ultrapassada...

A partir daí a sua vivência tem sido composta por episódios mais ou menos invulgares, com um misto de momentos mais ou menos felizes, salpicada com um 'je ne sais quoi' de autêntica parvoíce...


Começando pela primeira infância, nem chorar sabia! Raios partam a miúda, tem que se ensinar tudo? Um bebé nasce a chorar, como que instintivamente (sabe bem no meio do que se veio meter, pobrezinho...), por uma reacção de choque com esta brutal realidade, tão fria e barulhenta. Tadinho, mal nasce leva logo com uma data de gente com bata branca (ou verde, ou azul, ou cor-de-burro-quando-foge, não é relevante para o desenvolver da teoria) a pegar-lhe no pescoço, viram-no de pernas para o ar, açoitam-no, e ninguém é capaz de ter o mínimo respeito pela nudez deste pequenino ser a ponto de lhe dar qualquer coisinha para vestir! Não se faz... Claro que chora, que remédio! Se tivesse possibilidade desatava à lambada a toda a equipa médica, mas assim indefeso, só lhe resta chorar... Depois há sempre os bebés medricas que não choram muito alto, para não incomodar ninguém: ''Mãe, desculpa lá interromper a tua conversa com a vizinha, mas eu tenho assim um bocadinho de fome... Não precisa de ser já a correr... mas quando tiveres tempo... podias, hum... fazer-me uma buchinha? Uma sandes de courato ou assim... Pode ser? Mas só quando puderes, não quero incomodar, mãe...''


Bom, isto à conclusão da minha fraca apetência para o choro... Pelo que me contam, que eu felizmente não tenho memória de tudo (sim, felizmente...), o meu choro assemelhava-se a um miar de gatinho pequenino e débil, pelo que a minha mãe vivia num constante sobressalto, sempre a correr para junto do berço para ver se estava tudo em ordem. Quando ela me contou isto, percebi instantaneamente a sua aversão aos Aristogatos (inevitavelmente, um dos meus desenhos animados favoritos). Imagino o trauma...

Além de não ter muito jeito para chorar, o meu aspecto era... como direi?... pequenino e encarquilhado, cheio de rugas e todo vermelho. Daí a razão de não haver uma única foto minha na maternidade. Os meus pais dizem que não tinham máquina nessa altura, mas eu desconfio que tivessem vergonha de mostrar fotos de um pequeno rato (muito pequeno mesmo, do tamanho de um Nenuco, segundo consta) muito enrugadinho e encarnado de chorar. Quando comecei a ganhar cabelo e a ficar mais redondinha, lá começaram a fotografar o bebé, como se não houvesse amanhã! E que belas fotos!


Claro que eles vão negar, firmemente, esta informação!

Para cúmulo, à medida que os meses passavam, a bebezinha engordava, já se punha de pé, ensaiava inclusivamente uns quantos passos pelo corredor, agarrada à parede, mas dentes nem vê-los! Geralmente rompem por volta dos 9 meses de idade e mesmo um pouco antes, em alguns casos, mas no meu nem depois dos 12 meses! Resumindo, com 1 ano de idade já falava que me desunhava (por acaso nunca tive problemas com a fala; assim que comecei foi o descalabro... nunca mais me calei!) mas babava-me toda porque nem um dentinho tinha na boca. Nessa fase da minha vida era, provavelmente, mais parecida com a minha bisavó Padeira sem a dentadura do que com outro membro da família. Mas adiante...


Será que isso faz de mim uma atrasada dental? A question of great matter, indeed...

Há também o episódio em que me ia afogando numa poça de água, na praia, por volta dos meus 3 anos. Não é costume a memória reter momentos com esta idade, mas alguns dos mais marcantes não desaparecem. Lembro-me vagamente do meu chapéu branco com fitas... E lembro-me do medo que senti, medo de um ataque do mais perigoso dos animais (na minha cabeça, aos 3 anos de idade): a baleia! Não era do tubarão, ou da lula gigante, ou do caranguejo. Não senhor, era da baleia! Influências do livro da Moby Dick, da Disney. Lá me pescaram da poça, extremamente profunda (2 palmos) repleta de ameaçadoras estrelas do mar e violentos tufos de algas. Que aventura!


Ou aquela vez em que fui parar às urgências do hospital da Estefânia para remover um sapato da Barbie da narina... Estranho? Não, na realidade tratava-se de uma tentativa infrutífera de detectar vestígios de chulé... Pronto, ok, é ligeiramente estranho...

Semelhantes a estas, há inúmeras histórias que me fazem sorrir, quando as recordo. Achei que poderia partilhar um pouco delas, pois é nos aniversários que me lembro de todas.

De facto, a minha vida tem sido um acumular de experiências, assim a modos que estranhas, directamente relacionadas com determinadas particularidades da minha personalidade. Óbviamente não posso relatar nem uma décima parte, porque isto é um blogue, não é uma telenovela da TVI.


E este 'saber de experiências feito', como diria Camões, traduz-se nesta ''destrambelhice'' de pessoa, que na realidade é um amor de miúda, quando se consegue aturar. Geralmente quando está a dormir...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Introdução



Bom, parece que hoje em dia qualquer taralhoco pode ter um blog!


Aproveitemos, pois, esta facilidade e toca a escrever! Escrever é bom, desenvolve o intelecto! Escrevamos sem razão aparente!

Porque sim, porque não, porque está sol, porque faz frio, porque se partiu o aquário, porque as batatas têm sal a mais (ou a menos), porque a vizinha não se cala com o fado ao Domingo de manhã, porque o cão se baba constantemente em frente à televisão a ver os anúncios de comida para gato, por tudo e por nada... simplesmente porque apetece...

É bom encontrar um espaço a que possamos chamar nosso, onde possamos desabafar quando a vergonha, o pesar e a solidão nos invadem. Não tanto uma partilha de ideias ou experiências, mas um purgar do espírito, como um choro no escuro que nos deixa mais leves.

Acima de tudo, este pretende ser um espaço de reflexão, de encontro com a alma, de conversa íntima comigo mesma.

Claro está que há sempre aquele 'do-contra' que se sai com esta: '' Queres escrever então arranja um diário!''. Pois bem, a esse tipo de gente eu respondo com um sorriso e um ''Vai dar banho ao cão, ok?''

É que diários já escrevi muitos, e francamente... ''Ambrósio, apetece-me algo... Mas, pelo amor da Santa, Ferrero Rocher não, que já ando enjoada do raio dos chocolates, porra! Talvez escreva um blogue...'' Estão a ver a ideia? Inovar, tirar proveito desta globalização tecnológica em que nos encontramos mergulhados!

Vamos a isso!